Adapar e Embrapa orientam sobre o controle da cigarrinha do milho 10/03/2020 - 08:39

Em 2019, o Paraná cultivou cerca de 2,6 milhões de hectares com a cultura do milho e obteve uma produção de 13 milhões de toneladas. Desse total, 3 milhões de toneladas foram destinados a mercados de outros países, fato que torna o Estado o segundo maior exportador do país. Os 10 milhões, de consumo interno, são utilizados para alimentação humana e animal, como um dos principais insumos na avicultura, suinocultura e bovinocultura. Tal cenário coloca o milho como a segunda principal cultura em importância econômica para o Paraná e, nesse contexto, perdas na produção do estado, por ataques das pragas e doenças, representam riscos indesejados que podem ser evitados ou amenizados quando adotado o manejo adequado da cultura.

Na região Oeste Paranaense, na safrinha de milho 2019, em algumas lavouras de milho ocorreram perdas significativas em sua produtividade devido a problemas fitossanitários. Tal fato tem preocupado agricultores, assistência técnica e a Defesa Agropecuária do Estado. Para averiguar a causa do problema, de tombamento e morte súbita de plantas, uma equipe da Embrapa Milho e Sorgo esteve nos municípios de Marechal Cândido Rondon e Mercedes. Nesses locais, em algumas lavouras de milho os pesquisadores observaram alta incidência da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) e sintomas típicos dos enfezamentos, além de tombamento e morte súbita de plantas.

Os enfezamentos, vermelho e pálido, são causados pelos microorganismos chamados espiroplasmas e fitoplasmas, respectivamente, os quais pertencem à classe Mollicutes. São doenças sistêmicas que infectam os tecidos do floema das plantas de milho, interferem no crescimento e desenvolvimento das plantas, reduzem a absorção de nutrientes e afetam os processos de translocação de fotoassimilados, para o enchimento dos grãos e formação de espigas. Favorecem ainda a infecção das plantas por fungos que causam podridão de colmo e comprometem a produtividade da cultura. A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é considerada o principal vetor para a disseminação dessas doenças, assim, seu correto manejo da lavoura é fundamental para a mitigação dos danos causados pelos enfezamentos.

Para verificar a presença de tais pragas em lavouras no Oeste Paranaense, foram coletadas dezenove amostras de folhas de milho por pesquisadores da Embrapa e submetidas a exame laboratorial para análise molecular. Do total amostrado, onze amostras (57,9%) acusaram a presença de espiroplasma e não foi detectada a presença de fitoplasma.

A Adapar, da Unidade Regional de Toledo, passou a monitorar plantas infectadas com os espiroplasmas (molicutes) e presença da cigarrinha na região, safra de verão 2020. Em alguns cultivos foram observadas plantas de milho com sintomas típicos de enfezamento, amostras foliares destas plantas foram coletadas e encaminhadas para análise molecular no Centro de Diagnóstico Marcos Enrieti (Adapar) e para o Laboratório de Biologia Molecular da Embrapa Milho e Sorgo.

Foi observado pela fiscalização uma grande quantidade de plantas de milho invasoras (tiguera) em lavouras de soja na safra 2019/20. Para monitorar a presença de espiroplasmas (molicutes) em tais plantas, a Adapar realizou coletas de amostras em indivíduos com e sem sintomas de doença, para verificar se essas podem ser fonte de inóculo para o cultivo do milho safrinha 2020, as quais ainda estão em análise. A presença dessas plantas nas lavouras que antecedem o cultivo do milho é relatada como a principal forma de manutenção da praga e do seu vetor, as cigarrinhas. Dessa forma, a eliminação de plantas de milho invasoras em outros cultivos auxilia na redução de focos da doença.

A Adapar fiscalizou no primeiro trimestre de 2020 áreas de milho recém-semeadas com o objetivo de monitorar a presença de cigarrinhas, sendo constatada até o momento pequena população nos locais verificados.

O relato de problemas relacionados aos sintomas de enfezamentos na região Oeste Paranaense são recentes e até o momento ocorreu em áreas isoladas. Dessa forma, os produtores devem ficar atentos e realizar o manejo adequado para evitar a presença de cigarrinha do milho em sua propriedade e assim mitigar os danos causados pelos enfezamentos.

Neste contexto, a Adapar recomenda aos produtores da cultura do milho que busquem informações, sobre as pragas em questão, a identificação do seu vetor (transmissor) e a realização de monitoramento nas áreas com a cultura, visando auxiliar o diagnóstico por um profissional de agronomia e a necessidade de recomendação de controle. Vale lembrar que, caso seja recomendado o controle químico, o profissional deve prescrever agrotóxico cadastrado na Adapar e o agricultor utilizar o produto conforme prescrito no receituário agronômico, respeitando as recomendações de dose, cultura, praga e intervalo entre aplicações. Deve-se evitar uso irregular e desnecessário de agrotóxico, fato que pode acelerar a resistência das pragas, elevar o custo de produção e a contaminação ambiental.

 

Recomendações para a safra de milho 2020

 

De acordo com a pesquisadora da Embrapa, Dra. Dagma Dionísia da Silva, em diferentes lavouras e híbridos foi possível observar variação na incidência e na severidade dos danos pelos enfezamentos. Observou-se ainda que cigarrinhas infectadas migraram de lavouras mais velhas para mais novas e transportaram a praga para plântulas sadias, no início do ciclo de desenvolvimento da cultura. Esse fato, associado às épocas de plantio e a fatores climáticos, provavelmente contribuiu para a incidência de enfezamentos na safra de milho 2018/19. Nesse período, a colheita antecipada de soja e a colheita regional de fumo proporcionaram a semeadura de milho no período de outubro a dezembro, favorecendo a criação de intensa “ponte verde” entre as lavouras e a transmissão da praga, aumentando a incidência de enfezamentos. Além do milho tiguera a cigarrinha pode utilizar plântulas de sorgo, de Braquiária ruziziensis e de milheto para abrigo e alimentação, sobrevivendo no sorgo e na braquiária por até três semanas e no milheto por até cinco semanas. Em áreas em que foi realizado o tratamento de sementes (TS) e pulverizações contra insetos na fase de inicial do cultivo, pode ter ocorrido redução na ocorrência da cigarrinha e, consequente, redução na incidência de enfezamentos.

São sugeridas algumas medidas preventivas para reduzir a ocorrência de enfezamentos na safrinha de milho 2020:

 

Participar de reuniões técnicas para conhecer as questões fitossanitárias relacionadas à cultura do milho, bem como sobre a identificação da presença do inseto vetor (cigarrinhas), os sintomas das doenças nas plantas e sobre o manejo e as medidas preventivas para evitar a presença de cigarrinhas e pragas nas lavouras;

 

Eliminar as tigueras/plantas invasoras de milho em outros cultivos, os quais permitem a sobrevivência e multiplicação da cigarrinha, Dalbulus maidis, e agem como fonte de inóculo para os enfezamentos (e outras doenças);

 

Selecionar para o plantio, sementes de híbridos de milho com resistência aos enfezamentos, adaptados e recomendados para as épocas de plantio em cada região. Essa é a medida mais eficaz para manejo e convivência com o problema. Informações podem ser obtidas junto às empresas de produtoras de sementes e em publicações sobre o assunto;

 

Evitar a semeadura de milho em datas variadas na mesma região, para evitar as ‘pontes verdes’. Atenção às áreas menores onde já existe histórico de ocorrência de cigarrinha e enfezamentos de forma a evitar que os plantios relizados fora de época proporcionem “ponte verde” no milho e, permitam que as populações de cigarrinha se concentrem nessas áreas;

 

Monitorar a presença de cigarrinha nas lavouras em todas as safras e considerar o histórico de ocorrência de insetos;

Ficar atento à presença de cigarrinhas nas fases iniciais da lavoura, quanto mais cedo a planta for infectada, maior é a capacidade de danos econômicos nas lavouras. Dessa forma, o tratamento de sementes pode ser uma medida inicial para o manejo do vetor e, por consequência, da doença.

 

Para mais informações sobre a doença consulte os links abaixo:

 

- file:///D:/Usuarios/dagma.silva/Downloads/26636-126920-2-PB.pdf

- https://www.embrapa.br/milho-e-sorgo/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1100104/

resistencia-de-genotipos-de-milho-aos-enfezamentos

- https://www.embrapa.br/milho-e-sorgo/busca-depublicacoes/publicacao/busca/

Enfezamentos?

 

 

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